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Representações sociais do abuso sexual de crianças numa amostra de médicos e enfermeiros dos cuidados de saúde primários

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Isabel Fazenda

O abuso sexual de crianças é uma realidade global e incontornável nos nossos dias constituindo pelas suas múltiplas dimensões um especial desafio para um vasto leque de profissionais. Pretendeu‑se com este trabalho identificar as Representações Sociais em torno do Abuso Sexual de Crianças numa amostra de médicos e de enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários por se considerar que estes profissionais constituem frequentemente a primeira e única “porta de entrada” de silêncios implícitos na abordagem deste problema. Procurou conhecer‑se a influência que essas representações poderão ter nas dinâmicas de prevenção e de intervenção daqueles profissionais, e criar instrumentos de avaliação das representações sociais em torno da temática. Trata‑se de um estudo empírico efetuado numa amostra de médicos e de enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários. Foram utilizados três questionários de auto‑resposta com o objetivo de identificar a legitimação/aceitação do abuso sexual de crianças (Questionário de Representações sobre Abuso Sexual de Crianças – Histórias‑ QRASC‑HIS), bem como os fatores facilitadores/desencadeadores da ocorrência de abuso sexual de crianças, os fatores responsáveis pela manutenção e os que permitem interromper estas relações abusivas (Questionário sobre Abuso Sexual de Crianças – Facilitadores, Manutenção e Resolução‑ QASCFMR) e ainda a legitimação do comportamento sexualmente abusivo, a partir de um conjunto de afirmações em relação a situações de abuso sexual de crianças (Escala de Crenças sobre Abuso Sexual‑ ECAS). A amostra constitui‑se por 153 profissionais, 76 médicos e 77 enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários. Para avaliar a validade empírica, do QRASC‑HIS recorreu‑se à análise fatorial exploratória, a partir desta análise identificaram‑se cinco fatores que no seu conjunto explicam 67% da variância, e a estrutura fatorial obtida aproximou‑se das dimensões teóricas prévias à construção do questionário. No QASCFMR o valor mais alto de concordância nos fatores de ativação foi de 65,3%, nos fatores de manutenção de 83,7%, e nos fatores de resolução foi de 84,7%. Foram analisadas as influências relativas à idade, existência de filhos, estado civil, habilitações académicas, categoria profissional, local de trabalho, experiência profissional, formação específica na área do abuso sexual e contacto prévio com situações de abuso sexual de crianças. Conclusões ‑ os instrumentos utilizados apresentam boas qualidades psicométricas a nível da consistência interna. Os médicos e os enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários evidenciaram muito baixa tolerância ao abuso sexual de crianças. Relativamente à avaliação dos fatores promotores, de manutenção e de resolução os que apresentaram maior concordância foram respetivamente os “antecedentes de violência na família do abusador”, e “as ameaças por parte do abusador”; “informar a população em geral sobre a problemática do abuso sexual de crianças”; e “dar apoio à vítima para que ela adquira competências de impedir o abuso”. Estes resultados são consonantes com a literatura. Da análise da influência das variáveis independentes constatou‑se que o sexo, a idade, a categoria profissional e o tempo de serviço da profissão apresentam uma influência estatisticamente significativa na perceção do abuso sexual de crianças.


ISBN:

eISBN: 978-989-26-0967-6
DOI: 10.14195/978-989-26-0968-3_5
Área: Ciências da Saúde
Páginas: 95-113
Data: 2015

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