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Aves

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Jaime A. Ramos
Carlos Godinho
Vítor Encarnação

Para as aves, um curso de água apresenta três zonas principais: o curso de água, a vegetação ripária em redor, e as escarpas nas margens. A comunidade de aves existentes ao longo de um curso de água depende da qualidade do habitat existente nestas três zonas. Em Portugal, tal como no resto da Europa, com exceção do melro-d’água (Cinclus cinclus), não existem outras espécies de aves estritamente especialistas dos cursos de água. Esta espécie prefere cursos de águas com rápidos e de leito pedregoso, sendo mais abundante em cursos de água de montanha a norte do rio Tejo. Os grandes rios portugueses como o Minho, Lima, Douro, Tejo, Guadiana, Mondego e Sado são utilizados pelas aves nos seus movimentos migratórios. Estes grandes rios são também importantes para a reprodução de muitas espécies de aves aquáticas, quer aves coloniais de maior porte como as garças e os colhereiros, quer aves de médio porte como o pato-real (Anas platyrhynchos), e a galinha-de-água (Gallinula chloropus). As escarpas que bordejam alguns destes rios são importantes para aves rupícolas como os abutres, águias e cegonha-preta (Ciconia nigra), que nidificam geralmente em áreas de difícil acesso, e com reduzida perturbação humana. Os cursos de água de pequena dimensão e com vegetação natural associada, a galeria ripária, constituem condições distintas da área envolvente, o que explica o facto da maioria das espécies insetívoras florestais ser mais abundante nesta galeria ripária do que na área agro-florestal adjacente. A largura, composição florística e estrutura da vegetação da galeria ripária determinam a comunidade de aves desta zona. A vegetação mais densa da galeria ripária proporciona mais locais de nidificação e as condições climáticas mais adequadas proporcionam abrigo durante os dias quentes de Verão. Fora do período de reprodução, a galeria ripária proporciona abrigo e disponibilidade de alimento, quer para espécies em dispersão pós-nupcial, quer para espécies migradoras na sua rota para África. A conservação das aves dos cursos de água depende da gestão integrada dos rios e dos habitats envolventes. O melro d’água está fortemente associado com cursos de água pouco impactados das regiões montanhosas do norte e centro do país, e a alteração do regime de caudais dos cursos de água é importante para explicar a redução desta espécie em alguns locais da Beira Interior e do Parque Natural da Serra da Estrela. Um maior número de espécies e uma maior densidade de aves florestais refletem rios pouco impactados e com floresta ripária autóctone. Estas espécies são fáceis de monitorizar e poderão ser utilizadas como uma sentinela da integridade ecológica da comunidade do ecossistema dulciaquícola.


ISBN:
978-989-26-1623-0
eISBN: 978-989-26-1624-7
DOI: 10.14195/978-989-26-1624-7_10
Área: Ciências Naturais
Páginas: 233-249
Data: 2019

Palavras-Chaves

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