O Imperium, da origem ao Principado
Imperium, from origin to Principate
Filipe Carmo
O imperium teria sido, para alguns historiadores e num determinado período histórico, um poder soberano de comando, um poder absoluto de vida e de morte, ao qual os «súbditos» deviam, sem restrições, obedecer. O estudo da evolução do conceito – que poderia para outros ter tido origem no estabelecimento de uma hegemonia do Estado Romano sobre outros estados, ou no comando militar de uma aliança ou ainda numa afirmação de carácter pessoal, uma potência carismática conducente ao sucesso, assumida pelo chefe – conduz-nos, através dos séculos que vão desde a fundação de Roma até aos primeiros tempos do principado, a constatar a sua compatibilização com a existência da cidadania e naturalmente a não entender a referida obediência de modo absoluto. A aquisição do imperium pelos magistrados superiores da cidade estaria por outro lado estreitamente associada a uma sucessão de atos de natureza civil e religiosa cujo não cumprimento adequado poria em causa a legitimidade do exercício de tal poder. É precisamente uma crise de tal legitimidade, iniciada pela atomização do poder e derivada das conquistas romanas e das guerras civis, que conduz numa fase posterior – através das ditaduras de Sula e de César, dos triunviratos e da criação do principado – a uma reação que leva à concentração progressiva do imperium e à institucionalização do imperium Romanum sob formas que já são próximas dos conceitos modernos de império e imperialismo. O que não ocorre contudo sem um retorno a sentidos do conceito que pressupõem o poder régio e aspirações a um estatuto divino.
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ISBN: 978-989-26-1625-4
eISBN: 978-989-26-1626-1
DOI: 10.14195/978-989-26-1626-1_15
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 277-293
Data: 2018
Palavras-Chaves
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