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Caminhos narrativos: um personagem: o brasileiro

Narrative paths a character: the brazilian abstract

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Célia Maria Ladeira Mota
Leylianne Alves Vieira

Neste artigo, analisamos a caracterização de um personagem como é concebida em dois gêneros narrativos: o ficcional e o jornalístico. Vamos observar como o brasileiro é representado em Macunaíma, na obra de Mário de Andrade, e na reportagem da revista Realidade “O canavial esmaga o homem”, que conta a saga de Gregório, um trabalhador de engenho. O foco é perceber as subjetividades dos relatos e os contrastes entre a fantasia e a realidade e compreender os significados construídos. São representações da identidade do brasileiro que têm sua origem em duas matrizes culturais que herdamos dos portugueses: a aventura e o trabalho. O caminho teórico é o da Análise Crítica da Narrativa, como proposta por Motta, para quem “esta análise é um caminho rumo ao significado e o significado é uma relação: não há significado sem algum tipo de troca” (Motta, 2013: 121). Investigando as jornadas dos dois personagens e os acontecimentos nos quais se envolvem, de acordo com o ciclo do herói proposto por Campbell (2007), a análise estuda os significados que emergem de práticas culturais que têm raízes históricas e que até hoje contribuem para certa ambiguidade na concepção da identidade do brasileiro. A primeira narrativa analisada é ficcional e trata de um personagem que foi concebido nos primeiros anos do século XX, quando começa a se forjar a ideologia de um Brasil fruto de uma mestiçagem de três raças. Macunaíma, de Mário de Andrade, conta a história entre fábula e mito de um personagem que vai ser objeto de uma inclusão cultural precoce para a época, um retrato de um brasileiro aventureiro que mistura qualidades e defeitos. A segunda narrativa é o relato jornalístico de um personagem real, Gregório, um plantador de cana de açúcar. A reportagem foi publicada na revista Realidade, na década de 1970, e mostra as condições de vida do personagem, que ainda podem ser encontradas em dias mais recentes. Não há milagres na história dele, um brasileiro como tantos outros lutando para sobreviver em condições precárias. Na análise, os dois personagens são examinados a partir de uma perspetiva de identidade e de construção de brasilidade de cada um deles, levando em conta os cenários diferentes. O objetivo foi observar a dicotomia da identidade do brasileiro que tem base em dois princípios que se opõem desde os tempos coloniais. Macunaíma revela um jeito de ser e de sobreviver que caracteriza o brasileiro, “o jeitinho”, a malandragem. Gregório, por sua vez, não acredita em milagres, mas na sobrevivência pelo trabalho. Sérgio Buarque de Holanda (1988) no livro Raízes do Brasil, afirma que esses dois princípios, aventura e trabalho, regularam diversamente as atividades dos portugueses que participaram da grande aventura de posse das terras brasileiras no período colonial.


ISBN:
978-989-26-1323-9
eISBN: 978-989-26-1324-6
DOI: 10.14195/978-989-26-1324-6_11
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 289-313
Data: 2017

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