O conflito das filosofias do sujeito e a dimensão narrativa da autocompreensão
The conflict between the philosophies of the subject and the narrative dimension of self‑understanding
Manuel Luís Judas
Perante o conflito das filosofias do sujeito, exaltado por Descartes e humilhado por Hume e Nietzsche, Paul Ricoeur propõe‑nos o conceito de «atestação», entendido fundamentalmente como atestação de si‑mesmo, ou seja, confiança nas suas capacidades de dizer, de agir, de narrar a história da sua vida e de assumir a responsabilidade dos seus atos. São estas e outras capacidades, como as da memória e da promessa, que nos permitem conhecer a sua verdadeira identidade. Esta não é, como a das coisas ou dos animais, uma identidade substancial, mas antes, uma identidade dinâmica. Porque não deixa de fazer‑se e refazer‑se ao longo do tempo, responder à questão «Quem?», exige, antes de tudo, contar a história de uma vida. O tempo e a narrativa são, por isso, essenciais ao trabalho de reflexão sobre o sujeito, agente e sofredor, o que implica recorrer à experiência agostiniana de tempo e à teoria aristotélica da intriga. Como representação temporal das peripécias da ação do sujeito concreto, a narrativa é a forma de racionalidade capaz de acolher a diversidade das suas experiências e avaliações, a complexidade dos seus sonhos, motivos e projetos. A identidade narrativa situa‑se entre duas figuras de permanência no tempo – a mesmidade e a ipseidade – reunindo, simultaneamente, a permanência do caráter e a forma da manutenção de si próprio ao longo da vida.
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ISBN: 978-989-26-1090-0
eISBN: 978-989-26-1091-7
DOI: 10.14195/978-989-26-1091-7_3
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 53-61
Data: 2016
Palavras-Chaves
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