Sentido ético do perdão em Paul Ricoeur: perdoar o imperdoável
Ethical sense of forgiveness in Paul Ricoeur: forgiving the unforgivable
Fernando Acílio Saldanha
A vingança, porque não faz mais do que reforçar a espiral da maldade, não é uma boa forma de resposta à agressão de que se é vítima. A justiça, por sua vez, depara‑se com as suas limitações e a impossibilidade de ser justa quando, face a crimes imensos como o genocídio, não é possível a equivalência entre crime e pena. É talvez por isso que, pelo menos em certas situações, a melhor forma de lidar com o mal seja o perdão que, gesto difícil, excecional, de uma generosidade extrema e inscrevendo‑se numa lógica da superabundância e do dom, só manifesta plenamente o seu sentido e a altura a que se situa face à baixeza do mal, na sua relação com o imperdoável. Consciente de que houve perda e de que essa perda é irreparável, aquele que perdoa, sem confundir o ato mau com o seu agente e achando‑se agora no direito e também mesmo no dever de punir este, renuncia a fazê‑lo e, num voto extraordinário de reconhecimento nas capacidades regeneradoras do ser humano, liberta‑o da dívida para consigo e liberta‑se a si do ressentimento para com ele.
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ISBN: 978-989-26-1090-0
eISBN: 978-989-26-1091-7
DOI: 10.14195/978-989-26-1091-7_9
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 195-214
Data: 2016
Palavras-Chaves
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