Maria do Céu Fialho
A Antígona, da juventude de Cocteau, representa um programa de actualização dos clássicos não isento de provocação. Reagindo contra as formais representações da Comédie Française, Cocteau propõe um trabalho sobre o texto dramático de modo a obter um texto ‘pobre’, reduzido ao nervo, no contexto final, em cena, de um teatro total, em que o elemento musical e cénico (guarda-roupa) apresentam igual peso no espectáculo. A polémica instalada com a representação de Antígona teve a virtude de converter em questão do tempo, no rico e variado panorama da França de início dos anos 20, ‘como actualizar os Clássicos’ – o que viria a dar fruto, nos anos subsequentes, com propostas diversas de vários autores. Também Cocteau, reflectindo sobre a sua própria experiência, passando por vivências- limite, com a perda de Radiguet, o ópio, a proximidade e fascínio do ‘outro lado do espelho’, do anjo da morte, parente dos anjos rilkeanos, aprofundou a sua relação com os clássicos: o teatro grego e o mito passam a ser linguagem dessa sua mundividência, num teatro original, onde se cruzam referências culturais várias, a construir a grande metáfora dramática. Em La machine infernale, de inspiração livre em Rei Édipo e tocada por Édipo em Colono, Édipo, cego, sai para o exílio, no final da peça, acompanhado por duas vozes que se sobrepõem – a fantasmática, de Jocasta, e a de Antígona, que só se faz ouvir neste final. Tudo se passa como se, freudianamente, o ciclo de atracções incestuosas dos Labdácidas se perpetuasse.
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ISBN: 978-989-26-1110-5
eISBN: 978-989-26-1111-2
DOI: 10.14195/978-989-26-1111-2_4
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 87-103
Data: 2015
Palavras-Chaves
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