Os números e a natureza do mundo no pitagorismo antigo
Numbers and the nature of the world in ancient pythagoreanism
Gabriele Cornelli
A pergunta “Tudo é número?”, que intitula significativamente o célebre artigo de Zhmud na revista Phronesis de 1989 (“All is number?”), inaugura uma contestação do testemunho aristotélico central para a historiografia do pitagorismo, segundo a qual “tudo é número” seria a definição fundamental da filosofia pitagórica. Tarefa esta não certamente fácil, especialmente quando se considera que tanto a história da filosofia antiga quanto aquela da matemática antiga não pareceram ter muitas dúvidas, até então, em relação a essa mesma atribuição. O presente ensaio deseja submeter a revisão crítica a afirmação aristotélica pela qual os pitagóricos acreditariam tudo ser número”. Nossa análise das várias passagens e maneiras pelas quais Aristóteles afirma isso revelará, para além de meras variantes semânticas, uma contradição teor ética fundamental que o próprio Aristóteles parece incapaz de resolver. Três diferentes versões da doutrina estão, de fato, presentes na doxografia aristotélica: a) uma identificação dos números com os objetos sensíveis; b) uma identificação dos princípios dos números com os princípios das coisas que são; c) uma imitação dos números pelos objetos reais. Enquanto as versões a) e c) revelaram clara intenção polêmica de Aristóteles contra a militância platônica pela causa formal, a versão b), dos números como causas formais da realidade, demonstra ser uma reconstrução aristotélica da tese pitagórica. A esta reconstrução Aristóteles teria sido levado de um lado pela dificuldade de aceitar a noção pitagórica material de número, por outro lado, por considerá-la mais próxima à sua sensibilidade, fortemente marcada pela recepção dessa mesma teoria em âmbito acadêmico.
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ISBN:
eISBN: 978-989-26-0744-3
DOI: 10.14195/978-989-26-0744-3_2
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 37-58
Data: 2013
Palavras-Chaves
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