A leitura Heideggeriana do Tratado Aristotélico do tempo: um “Caso” de fenomenologia
The Heideggerian reading of Aristotle's Treatise on time: a phenomenological case
Libanio Cardoso
Em Ser e Tempo, de 1927, Martin Heidegger afirma que a temporalidade (Zeitlichkeit) é o sentido ontológico do ente que somos, o “ser‑ aí” (Dasein); também em 1927, na segunda parte do curso Problemas Fundamentais da Fenomenologia, afirma que o ser do ser‑aí é a diferença ontológica mesma. Essas posições têm conexão com a “compreensão de ser”, determinação segundo a qual uma compreensão pré‑temática de ser possibilita a lida com entes, isto é, o sentido da vigência de um mundo. Trata‑se, pois, do esquema da transcendência, tal como essa filosofia a compreendeu. Isto se formula em três teses breves: (a) compreensão de ser não é algo que um ente faz ou realiza, mas a condição do projeto em que recebem sentido os entes e o ser; (b) diferença ontológica não é uma distinção real ou mental, mas irrupção da compreensão de ser como ser‑no‑mundo; (c) enquanto Projeto, a compreensão de ser deve ter a estrutura da temporalidade. Para esclarecer a conexão entre esses itens, nosso escrito acompanha a leitura heideggeriana da “fixação conceitual” da concepção vulgar de tempo, que para Heidegger se encontra na Física IV 10‑14. Uma concepção do tempo relacionada ao movimento e fundada no agora indicaria que Aristóteles não teria visto a conexão entre tempo e temporalidade, o que implica ter sido projetado no esquecimento do nexo entre diferença ontológica, compreensão de ser e ser‑no‑mundo. Assim, a transcendência permaneceria velada enquanto tal, tutelada pelas considerações categoriais e das causas. O que se espera é iniciar a descoberta de um modo de ler que alia a capacidade especulativo‑ontológica à tese de fundo do esquecimento da diferença ontológica.
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ISBN: 978-989-26-1048-1
eISBN: 978-989-26-1049-8
DOI: 10.14195/978-989-26-1049-8_9
Área: Ciências Sociais
Páginas: 259-303
Data: 2015
Palavras-Chaves
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