/ Catálogo / Livro / Capítulo

Tempo livre, lazer e terciário (1991)

≈ 2 mins de leitura

António Gama
Norberto Santos

mito da sociedade dos ócios. Na sociedade contemporânea a separação na forma como é usado o tempo pelos seus elementos traduz a estrutura de divisão social do trabalho, a qual manifesta correspondências marcantes nos usos do tempo. A predominância deste ou daquele tipo de uso, a maneira como o tempo é aproveitado, está muitas vezes, em relação com a condição social dos indivíduos. Estas diferenciações enraízam-se em modificações sociais que tomaram lugar sobretudo no século passado, como sejam a redução dos horários de trabalho, o direito às férias... Actualmente, no processo de terciarização das sociedades urbano/industriais assumem lugar importante uma panóplia de actividades de serviços e de comércio cuja relação com as práticas do tempo livre e do lazer são manifestas. A redução e a delimitação do tempo de trabalho têm como corolário a formação de um tempo livre. Este engloba um tempo de lazer que pode reflectir a importância das formas actuais de massificação do ócio. Daí que se possa compreender o grande interesse, por parte dos grandes grupos económicos, pela produção dos ócios e, por consequência, em se apossarem dos espaços que permaneciam menos aproveitados: a alta montanha, o mar, a praia. A variedade de espaços é imensa e apesar de serem espaços de divertimento, descanso e desenvolvimento, são, também, espaços de consumo virados para o ócio, criando, por isso, e para além das pretensões de sociabilização, uma vincada segregação social. No entanto, as práticas do tempo livre e do lazer são marcadas, para além das ambiguidades referidas por dualidades diversas. Estas dualidades evidenciam, tanto no modo de produção como na temporalidade, a fronteira ténue entre lazer e trabalho e tempo livre e trabalho. O desenvolvimento destas práticas conduziu à diferenciação espacial, cuja maior acentuação se manifesta nas áreas urbanas. A ilustração destes problemas será feita com base em dois exemplos: em primeiro lugar a propósito da distribuição regional de práticas culturais e desportivas em Portugal; em segundo, através das actividades relacionadas com os ócios e a sua distribuição espacial em Coimbra. No primeiro exemplo, numa análise que tem como unidade de referência o distrito, dá-se importância à distribuição das casas de espectáculos e aos seus utilizadores. Nas práticas desportivas, através da contabilização de indivíduos que têm uma actividade desportiva federada ou profissional, faz-se a ilustração das diferenças de quantitativos existentes a nível distrital. Tanto as práticas culturais como as desportivas oferecem uma leitura que indicia desigualdades entre o litoral e o interior, frequentemente referidas no âmbito do crescimento económico, mas que se reflectem no acesso à cultura, ao recreio e ao desporto. No segundo exemplo, valorizam-se as distribuições das actividades ligadas ao lazer e ao tempo livre, tendo como estrutura de referência a rede viária da cidade de Coimbra. Salienta-se, pontualmente, a utilização dos espaços de ócio (ao ar livre e em espaços fechados) tais como áreas verdes e estruturas desportivas e, também, os espaços de sociabilização e os de valorização cultural. Como o ócio é, frequentemente, sinónimo de aumento de consumo, faz-se também a representação de alguns comércios que contribuem ou são utilizados para a prossecução de práticas de ócio.


ISBN:

eISBN: 978-989-26-0432-9
DOI: 10.14195/978-989-26-0432-9_3
Área: Ciências Sociais
Páginas: 59-83
Data: 2008

Palavras-Chaves

Download


Outros Capítulos (13)

Notas para uma Geografia do tempo livre (1988)

António Gama

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_1

Residência secundária e espaço rural: duas aldeias na Serra da Lousã

Fernanda Cravidão

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_2

Tempo livre, lazer e terciário (1991)

António Gama;Norberto Pinto dos Santos

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_3

Fundamentos para uma Geografia do tempo livre (1992)

António Gama

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_4

Associativismo e práticas de ócio (1994)

António Gama

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_5

Os espaços/tempos de lazer na sociedade de consumo contemporânea (1999)

Norberto Pinto dos Santos;António Gama

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_6

Notas para uma geografia dos desportos radicais no centro de Portugal (1998)

Lúcio Sobral da Cunha;Fernanda Delgado Cravidão

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_7

Lazer, espaço e lugares (2005)

Norberto Pinto dos Santos

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_8

Globalization and the relationship work/leisure: from standardization of leisure to work flexibility (2005)

Norberto Pinto dos Santos

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_9

Tempo livre, lazer e consumo na sociedade urbana contemporânea, segundo os géneros (2005)

Claudete Oliveira Moreira

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_10

Novas oportunidades para o espaço rural: análise exploratória no Centro de Portugal (2007)

Norberto Pinto dos Santos;Lúcio Sobral da Cunha

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_11

Wine in Portuguese tourism and leisure (2008)

Norberto Pinto dos Santos

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_12

O lazer e a noite: imagens de uma cidade universitária: Coimbra (2008)

Norberto Pinto dos Santos;Claudete Oliveira Moreira

https://doi.org/10.14195/978-989-26-0432-9_13