A retórica: disciplina de comunicação: una e múltipla, na sociedade e na escola
José Nunes Esteves Rei
A Retórica apresenta-se, diacronicamente, envolvida em avanços e recuos, alargamento e diminuição de algumas das suas partes e, ainda, caracterizada como branca ou preta, morta ou ressuscitada. Haveria azo a perguntar: trata-se, ainda, da mesma ou de várias disciplinas? A ser única e com subdivisões, interrogar-nos-emos: quais os fundamentos da sua compreensão?−Penso estarmos não só perante uma disciplina una, como diacronicamente em desenvolvimento quanto aos produtos discursivos e ao espaço social de intervenção, tornando-se cada vez mais complexa por confronto e exigência das sociedades que a solicitam, em cada nova Idade, e às quais responde positivamente, de acordo com as novas necessidades que se vão manifestando.−Como pressuposto, temos que a Retórica se tem apresentado como “didáctica dos discursos”, uma “teoria do texto”, termo esse que Van Dijk preferiria a esta expressão se não acontecesse, como refere, que “o conceito de retórica frequentemente se associa a determinadas formas e manifestações estilísticas e de outra índole, em especial na comunicação pública e persuasiva.” (Van Dijk 1992: 19)−Estamos, assim, perante uma disciplina de comunicação discursiva, que se multiplica por espaços e tempos diferentes, num movimento pendular entre a sociedade, onde tem o seu espaço de autenticidade e eficácia, a escola, onde é objecto de tratados múltiplos, por parte de académicos, e a aprendizagem, do lado dos escolares.−A Retórica estrutura-se, assim, entre Sociedades, que a ela recorrem sob formas várias, tratados retóricos, que lhe traçam os correspondentes rostos, e Escolas, que os recebem e os transmitem de gerações em gerações, na preparação dos escolares para a vida activa.−Este triângulo retórico: Sociedade - Retórica - Escola, constituído instrumento de investigação, permite estabelecer critérios, apontando três retóricas que se tornam concomitantes após o surgimento sucessivo da segunda e da terceira.−Trata-se da Retórica clássica, antiga ou da inventio, localizada nos tribunais, e que mantém a sua actualidade desde a Grécia e Roma até aos nossos dias; da Retórica literário-cultural, romântica ou da elocutio, situada na governação do Estado moderno e institucionalizada na literatura, que se expande a partir do século XVI e mantém, até hoje, a sua vitalidade; e da Retórica comunicativo-funcional, das empresas e organizações ou da dispositio, surgida na segunda metade do século XX, que dá os seus primeiros passos em termos tratadísticos, reflexivos e escolares.
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ISBN:
eISBN: 978-989-26-0498-5
DOI: 10.14195/978-989-26-0498-5_15
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 247-261
Data: 2009
Palavras-Chaves
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