O Louco e o Arlequim: marginalidade e vanguarda estética na crise final da I República
Luís Augusto Costa Dias
A despeito de algumas restrições importantes nas relações teóricas entre o positivismo e o republicanismo português, numa reconfiguração política que seguiu essencialmente a via heterodoxa de Littré (sob o paradigma da harmonização por este estabelecida entre Revolução e Positivismo em vista Do estabelecimento de Terceira República francesa) – pode subscrever-se, de um modo geral, que a revolução republicana de 1910 tenha sido filha do pensamento positivista e culminou a vaga de euforia cientista da última metade do século anterior. É conhecida (e foi, aliás, motivo de demonstração de inegável influência sócio-política) a plêiade de cientistas a publicistas portugueses alinhados com as ideias de Comte e seus discípulos e, simultaneamente, empenhados na mudança de regime político. Não se trata aqui, porém, de recuperar ou actualizar qualquer genealogia da influência do legado positivista nos ideais republicanos, nem tão pouco estabelecer os modos da decifração filosófica e sociológica das fontes de inspiração, mas estritamente avaliar como, entre outros motivos de interesse, a mentalidade cientista da República vitoriosa, no limiar da crise de valores culturais, votou à marginalidade uma minoria de artistas que, opondo-se aos ideais regeneradores ou a eles alheios, radicalizaram a subjectividade e conferiram um valor ôntico à realidade individual como profundo eu artístico… Como, contrariando o cientismo biológico-social que pretensamente ordenaria a orgânica da sociedade e a sua normal reprodução e como, possuidores de imenso génio, tais artistas exorcizaram a sua marginalidade em Arte. Neste sentido, trata-se, quando muito, de actualizar a genealogia do campo das referências polémicas com os fundamentos doutrinários republicanos aberta pelos poetas de orpheu…e tudo.
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ISBN:
eISBN: 978-989-26-0362-9
DOI: 10.14195/978-989-26-0362-9_13
Área: Artes e Humanidades
Páginas: 125-133
Data: 2006
Palavras-Chaves
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