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Ésquilo: o primeiro dramaturgo europeu

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Maria de Fátima Silva

O objetivo principal deste estudo é avaliar a produção de Ésquilo numa perspetiva dramática e cénica. Sem abdicar da análise interpretativa de alguns aspetos relevantes do pensamento esquiliano, são sobretudo as componentes de força da estrutura dramática e os recursos de cena verdadeiramente caracterizadores de um certo gosto teatral que têm a prioridade. Assim, coro e personagens, na proporção que lhes é dada e nas formas de identificação usadas ocupam um espaço vasto deste estudo, ao lado de alguns processos consagrados como tipicamente trágicos – sonhos, silêncios, reconhecimentos, espetáculo da morte. Um breve capítulo sobre o drama satírico desvenda essa outra face da produção de um poeta, que para os olhos modernos se define por excelência como autor de tragédias. A verbalização da consciência de identidade, no contexto do espaço que é para nós, hoje, o da Europa, é de matriz helénica e tem os seus primeiros testemunhos no mais antigo dos textos poéticos da nossa civilização – os Poemas Homéricos. Desde sempre tal consciência foi experienciada em correlação com a de alteridade, assente, inicialmente, num critério de ordem meramente linguística. Barbarophonos opõe-se, em Homero, àquele que fala grego e essa oposição é aí sentida em relação a um espaço oriental próximo. Pode, assim, dizer-se, que a consciência de identidade helénica, que se converterá, dentro da cultura grega, na de identidade europeia, nasce com um olhar a oriente – de Homero a Xenofonte é perseguido esse olhar neste livro. Assim o demonstra o conteúdo deste volume, bem como o modo como os conceitos correlativos de Heleno e Bárbaro vão ganhando amplitude. Bárbaro será o Outro, de uma Ásia cujo espaço pode compreender o próprio Egito, que se rege por códigos de comportamento diversos e não passíveis de conciliação com os gregos. Entre a curiosidade e o fascínio por essa diversidade, consoante Heródoto o demonstra, e uma consciência de supremacia cultural, cujos valores se afirmam com particular veemência em tempo de crise e de ameaça, como é o caso do das Guerras Medo-persas, os testemunhos dos autores oferecem um inesgotável manacial de leituras. Em Ésquilo, Persas, as representações de alteridade podem espelhar a potencialização da imagem negativa ou a projeção da idealização da identidade, no caso de Dario. O efeito de estranhamento extraído da caricatura da língua e hábitos do Não-grego, proporciona matéria para criação do cómico no teatro aristofânico, mas, simultaneamente, assiste-se a um tipo de efeitos similares extraídos da caricatura do Não-ático. É que também, desde cedo, a experiência de identidade contém fissuras e paradoxos, que levam a equacionar a questão, tão típica do drama euripidiano: quem é, afinal, o verdadeiro bárbaro, retomando a abertura, já percetível em Ésquilo, à questão das fronteiras da identidade. Tais fissuras encontram suporte na diversidade semântica, ainda visível em Platão, entre xenos, o estrangeiro grego fora do contexto da sua pólis, e barbaros, o Não-grego. Confrontamo-nos com uma Hélade que se entende como um todo e, simultaneamente, como um conjunto de micro-universos fechados, os das póleis, unidos por fortes denominadores culturais comuns. Percebem-se, todavia, mecanismos de exclusão e inclusão, dinâmicas de gradação identitária no universo da pólis em relação aos seus cidadão e aos xenoi aí acolhidos. Desde sempre, identidade e diversidade jogam-se entre dois universos diferentes mas também, com cambiantes, contradições, enriquecimento e hostilidade, no próprio cosmos identitário.

1.ª Edição
ISBN:
972-8704-61-5
eISBN: 978-989-26-0379-7
DOI: 10.14195/978-989-26-0379-7
Série: Investigação
Páginas: 175
Data: Outubro, 2005

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