Esta obra consiste na transcrição, análise e interpretação de dois receituários conventuais setecentistas inéditos, os quais foram objecto de comparação com outros congéneres de épocas próximas, produzidos no mesmo âmbito e entre os leigos. O percurso empreendido procurou avaliar a originalidade real ou imaginária das receitas preparadas nas casas religiosas da Época Moderna e permitiu responder a várias interrogações, destaquem-se algumas: até que ponto as receitas conventuais foram criadas nesse âmbito ou foram levadas para os cenóbios por freiras, frades, monjas monges, criadas e criados? Atendendo a que os ingredientes e as técnicas culinárias utilizados nas casas religiosas eram conhecidos nos espaços de leigos, mormente entre os confeiteiros, cujos regimentos eram claros acerca das exigências para se obter carta, como se explica o furor, muitas vezes desmedido, da designação conventual aplicada a tantas e tão desvairadas receitas? É certo que monges, monjas, freiras, frades, criados e criadas tinham tempo para a culinária e é admissível que muitos, ou pelo menos alguns, apreciassem a preparação de pratos salgados e especialmente de doçaria. Porém, não terão sido as ofertas e a comercialização dos doces os principais responsáveis pela exaltação da designação conventual, na falta, verificada nos séculos XVII e XVIII, de pastelarias e confeitarias cuja fama se expandisse pelo Reino? Estaremos perante criações de doces genuinamente conventuais ou meras execuções de receitas inicialmente produzidas nas cozinhas de grandes casas e, posteriormente, levadas para os cenóbios, tal como tantas outras receitas de carne e de peixe? A análise e a interpretação das fontes tornaram muito claro que a esmagadora maioria das receitas preparadas nas casas religiosas nada tinha de original, basta comparar essas receitas com as que circulavam manuscritas ou impressas em outros receituários da época. Por outro lado, o pretenso sigilo que deveria envolver as receitas ditas conventuais – e isso é patente em alguns receituários femininos – era quebrado, de tal modo que livros de cozinha de leigos integram receitas com designações de algumas casas religiosas, o que não significa necessariamente que essas receitas aí tenham sido criadas mas sim que aí eram preparadas com êxito e objecto de apreço por quem tinha oportunidade de as degustar.
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1.ª Edição
ISBN: 978-989-26-1079-5
eISBN: 978-989-26-1080-1
DOI: 10.14195/978-989-26-1080-1
Série: DIAITA
Páginas: 412
Data: , 2015
Palavras-Chaves
Doçaria, Receituários conventuais
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